domingo, 11 de dezembro de 2011

Questões de escolarização


Quando se deixa de ser criança para tornar-se aquilo ou aquele que denominamos por aluno?

              Estamos diante de três possibilidades, ou seja, criança, aluno e a transição de um para o outro. A princípio creio que, ater-me a transição de um estado para o outro pode possibilitar uma melhor apreensão do protagonista desta tríplice problemática, ou seja, o sujeito que passa de uma condição a outra e permanece em sua possibilidade ambígua de variabilidade e coesão estável. Pode-se dizer que este sujeito enquanto identidade é a própria condição de encontro, uma encruzilhada onde o que se constitui como "eu" é um espaço, que dado o movimento, possibilita-o enquanto encontro de outros movimentos distintos. As percepções elaboradas destas apreensões, talvez seja o que se estrutura como identidade, afinal cada qual apreende sua circunstância, de acordo com o que consegue apreender.
              Partindo desta concepção, ser ou estar criança é a condição de uma articulação não padronizada de apreensão formalizada, afinal, socializar-se, em um de seus possíveis aspectos, pode-se dizer que é a distinção por entre os encontros do movimento vário em que estar-se presente ou não, é o critério de avaliação quanto a estrutura de apreensão que vai se estabelecendo. Não obstante, a criança está em sua condição de uma não articulação padronizada quanto a sua circunstância.
             Quanto a mim, em minha condição de jogado ao movimento vário (ser criança), não saberia dizer ao certo, se aquela condição me era estranha, quanto o desconforto ocasionado pelas expectativas ao meu redor, e ainda que estranha, posso dizer que o estranho é o próprio estranho, pois, agradável e desagradável se encontravam em mim e produziam apreensões que me fogem e se negam a serem estabelecidas, ou seja, nuances que retornam algumas vezes como uma nostalgia de não sei o que, em outras como uma melancolia, enfim, algo que me foge a compreensão. Talvez as transições entre a criança e o aluno estejam nesta zona de imagens, sons, vozes que se desprendem de suas situações ocasionais e ficam soltas desafiando a razão estabelecida naquilo que a estrutura enquanto tal, ou seja, quanto a sua ordem e origem estabelecida como um ponto em um eixo de coordenadas.
               Portanto, um aspecto desta transição, é a estrutura da razão como coeficiente de uma operação apanhada de forma consensual e coletiva (deste movimento) e tornada forma a partir de sua condição de não forma e, assim, sujeita a variações controladas. Eis aqui nosso aluno em suas etapas de aprendizagem e internalização do controle dos movimentos e em sua distinção quanto aos apreensíveis e não apreensíveis.
             
Processo de Escolarização.

                Pode-se dizer que o processo de escolarização envolve dimensões de plurivocidade, ou seja, há possibilidades várias de compreensão deste processo quanto a sua condição de necessidade e por outro lado, quanto a sua condição de contingência.
               Quanto a sua condição de necessidade pode-se perguntar primeiramente “o que” ou “a que” se faz necessário o processo de escolarização e ainda o que se pode entender como “o que” se caracteriza como necessário em seu núcleo de constituição?
                O processo de escolarização pode ser entendido como uma etapa integrada à condição de socialização estabelecida como fatores conseqüentes de visibilidade e fala audível. Quem é este sujeito escolarizado ou que se propõe a passar por esta etapa senão o candidato a cidadania reconhecida de participação em seus diversos aspectos de hierarquias estabelecidas, e, sob as quais pairam os critérios de adequação e inadequação.
               A necessidade é produzida e estabelecida de acordo com uma origem datada, ou seja, a partir da formação do processo produtivo de uma sociedade que se organiza enquanto tal.
               Este sujeito que em sua relação circunstancial, seja enquanto predicado, é a característica de uma síntese possível do movimento dinâmico de um processo produtivo em sua transição. O sujeito que produz é o que assim o faz-se produzindo para si o produto que se expande e circula-o submetendo-o a um sistema que o torna simultaneamente produtor e produto. Nesta relação se estabelece espaços de transições que se demarcam e se condicionam em etapas seletivas de includentes e excedentes. Tais etapas são constituídas de gestos, que por si, denotam aspectos de uma microfísica de poder. Poder que se bifurca em possibilidades de inclusão e exclusão. A escola ou processo de escolarização faz parte disto como uma destas etapas de necessidade implícita e constitutiva condicional. O sujeito, por si, não se inclui ou se exclui, porém é incluído ou excluído por contingências alheias e independentes de seu próprio consentimento.
                Portanto os processos de internalização de controle não se configuram como garantia de possibilidades de inclusão, pois, o sujeito deste controle, por sua vez, está sujeito a variabilidade de características contingenciais que lhe fogem ao controle e que se manifestam em procedimentos seletivos e descartáveis. A condição do descartável controla eficientemente a situação de probabilidade seletiva produzindo a sua efetivação quantitativa no que tange aos sujeitos candidatos.
                Enfim, pode-se concluir que o seletivo enquanto includente e excludente se estruturam como o tripé de todo um processo de formação de sociedade pelo qual se inclui a escolarização como uma etapa ou um procedimento gradual de transição.  
 Do que me tornei há algo a recusar?

Acredito que sempre haverá algo por recusar, mesmo porque estou em construção e não estou acabado. Portanto ainda não me tornei, porém, estou o tempo todo me tornando aquilo ou aquele que nunca se completa, mas, que precisa, vez por outra, nutrir-se da ilusão do que se torna. Eis aqui algo que se inclui no exercício da recusa.
            

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