Quando
se deixa de ser criança para tornar-se aquilo ou aquele que denominamos por
aluno?
Estamos diante de três
possibilidades, ou seja, criança, aluno e a transição de um para o outro. A
princípio creio que, ater-me a transição de um estado para o outro pode
possibilitar uma melhor apreensão do protagonista desta tríplice problemática,
ou seja, o sujeito que passa de uma condição a outra e permanece em sua
possibilidade ambígua de variabilidade e coesão estável. Pode-se dizer que este
sujeito enquanto identidade é a própria condição de encontro, uma encruzilhada
onde o que se constitui como "eu" é um espaço, que dado o movimento,
possibilita-o enquanto encontro de outros movimentos distintos. As percepções
elaboradas destas apreensões, talvez seja o que se estrutura como identidade,
afinal cada qual apreende sua circunstância, de acordo com o que consegue
apreender.
Partindo desta concepção, ser ou estar criança
é a condição de uma articulação não padronizada de apreensão formalizada,
afinal, socializar-se, em um de seus possíveis aspectos, pode-se dizer que é a
distinção por entre os encontros do movimento vário em que estar-se presente ou
não, é o critério de avaliação quanto a estrutura de apreensão que vai se
estabelecendo. Não obstante, a criança está em sua condição de uma não
articulação padronizada quanto a sua circunstância.
Quanto a mim, em minha condição de
jogado ao movimento vário (ser criança), não saberia dizer ao certo, se aquela
condição me era estranha, quanto o desconforto ocasionado pelas expectativas ao
meu redor, e ainda que estranha, posso dizer que o estranho é o próprio
estranho, pois, agradável e desagradável se encontravam em mim e produziam apreensões
que me fogem e se negam a serem estabelecidas, ou seja, nuances que retornam
algumas vezes como uma nostalgia de não sei o que, em outras como uma
melancolia, enfim, algo que me foge a compreensão. Talvez as transições entre a
criança e o aluno estejam nesta zona de imagens, sons, vozes que se desprendem
de suas situações ocasionais e ficam soltas desafiando a razão estabelecida
naquilo que a estrutura enquanto tal, ou seja, quanto a sua ordem e origem
estabelecida como um ponto em um eixo de coordenadas.
Portanto,
um aspecto desta transição, é a estrutura da razão como coeficiente de uma
operação apanhada de forma consensual e coletiva (deste movimento) e tornada
forma a partir de sua condição de não forma e, assim, sujeita a variações
controladas. Eis aqui nosso aluno em suas etapas de aprendizagem e
internalização do controle dos movimentos e em sua distinção quanto aos
apreensíveis e não apreensíveis.
Processo
de Escolarização.
Pode-se dizer que o processo de escolarização
envolve dimensões de plurivocidade, ou seja, há possibilidades várias de
compreensão deste processo quanto a sua condição de necessidade e por outro
lado, quanto a sua condição de contingência.
Quanto a sua condição de necessidade pode-se
perguntar primeiramente “o que” ou “a que” se faz necessário o processo de
escolarização e ainda o que se pode entender como “o que” se caracteriza como
necessário em seu núcleo de constituição?
O processo de escolarização pode ser entendido
como uma etapa integrada à condição de socialização estabelecida como fatores
conseqüentes de visibilidade e fala audível. Quem é este sujeito escolarizado
ou que se propõe a passar por esta etapa senão o candidato a cidadania
reconhecida de participação em seus diversos aspectos de hierarquias
estabelecidas, e, sob as quais pairam os critérios de adequação e inadequação.
A necessidade é produzida e
estabelecida de acordo com uma origem datada, ou seja, a partir da formação do
processo produtivo de uma sociedade que se organiza enquanto tal.
Este sujeito que em sua relação
circunstancial, seja enquanto predicado, é a característica de uma síntese
possível do movimento dinâmico de um processo produtivo em sua transição. O
sujeito que produz é o que assim o faz-se produzindo para si o produto que se
expande e circula-o submetendo-o a um sistema que o torna simultaneamente
produtor e produto. Nesta relação se estabelece espaços de transições que se
demarcam e se condicionam em etapas seletivas de includentes e excedentes. Tais
etapas são constituídas de gestos, que por si, denotam aspectos de uma
microfísica de poder. Poder que se bifurca em possibilidades de inclusão e
exclusão. A escola ou processo de escolarização faz parte disto como uma destas
etapas de necessidade implícita e constitutiva condicional. O sujeito, por si,
não se inclui ou se exclui, porém é incluído ou excluído por contingências
alheias e independentes de seu próprio consentimento.
Portanto os processos de
internalização de controle não se configuram como garantia de possibilidades de
inclusão, pois, o sujeito deste controle, por sua vez, está sujeito a
variabilidade de características contingenciais que lhe fogem ao controle e que
se manifestam em procedimentos seletivos e descartáveis. A condição do
descartável controla eficientemente a situação de probabilidade seletiva
produzindo a sua efetivação quantitativa no que tange aos sujeitos candidatos.
Enfim, pode-se concluir que o
seletivo enquanto includente e excludente se estruturam como o tripé de todo um
processo de formação de sociedade pelo qual se inclui a escolarização como uma
etapa ou um procedimento gradual de transição.
Do que me tornei há algo a recusar?
Acredito
que sempre haverá algo por recusar, mesmo porque estou em construção e não
estou acabado. Portanto ainda não me tornei, porém, estou o tempo todo me
tornando aquilo ou aquele que nunca se completa, mas, que precisa, vez por
outra, nutrir-se da ilusão do que se torna. Eis aqui algo que se inclui no
exercício da recusa.
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